Nesta liturgia, Deus nos convida a acolhermos a verdadeira alegria da proximidade de Deus.

A primeira palavra de alegria é a do profeta Isaías. Diferente do contexto do domingo passado, agora o povo já havia retornado do exílio babilônico, mas ainda se adaptava a nova forma de vida no pós-exílio. Embora livre, não se sentia acolhido entre os concidadãos, enfrenta a falta de moradia e o trabalho duro. O profeta exorta um pequeno resto na esperança: o Senhor fará surgir a justiça, porém não de modo imediato. Da mesma forma que a semente demora germinar e crescer, assim acontece com a justiça prometida por Deus. Deste modo, aprendemos com Isaías que não devemos ser imediatistas, mas esperar no Senhor. Seu amor é esponsal, não nos abandona, sua aliança de amor é para sempre: “Exulto de alegria no Senhor... Ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa ou uma noiva com suas joias” (Is 61,10). Alegres seguimos, porque temos a certeza de que Deus nos ama.

A segunda palavra de alegria é de São Paulo: “Estai sempre alegres!” (1Ts 5,16). Para o cultivo da alegria, o apóstolo nos recomenda:

- rezar sem cessar: a oração nos mostra o caminho, fortalece-nos, mantém acesa a esperança, o amor;

- dar graças: agradecer as coisas boas da vida, ao invés de reclamar das adversidades;

- não apagar o espírito, mas examinar tudo, ficando com o que é bom: dar abertura para que o Espírito realize sua obra em nós, mas sem manipular a sua ação em nosso favor; a ação do Espírito exige discernimento;

- afastar-se da maldade, conservar a vida para a vinda do Senhor: evitar o pecado, manter-se puro.

A terceira palavra de alegria vem de João Batista. Este homem parece não nos trazer a alegria, mas a severidade austera do deserto. Por isso, precisamos perceber a alegria da ação profética de João nas entrelinhas. João veio para dar testemunho da luz: “Ele veio como testemunha para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (Jo 1,7-8). Cristo é a nossa luz, ou seja, o sentido da vida, a sabedoria que guia nossos passos. Estar na escuridão é ameaça de tropeço e a falta de orientação. Nossa alegria apenas será plena se percebemos qual o caminho que devemos seguir. A única resposta está na luz do Senhor.

De fato, João não era a luz. Quando perguntado sobre sua identidade e autoridade, diz apenas que é uma voz. Sempre mencionamos a humildade de João Batista ao se colocar na posição daquele que aponta para o Senhor, mas nunca ocupa o lugar de Deus. Hoje são muitas vozes que tentam ocupar o lugar da verdadeira Palavra de vida. Vozes que afirmam com autoridade ter a solução para os problemas, o sentido da existência. Podemos nos iludir facilmente pelas vozes, sem “examinar tudo, ficando com o que é bom”. João Batista é o testemunho de uma voz humilde que mostra a verdadeira luz. Nem a voz, nem a luz são manifestas pelo poder ou pela exuberância. É na fragilidade e na pobreza do profeta e do seu Messias que encontraremos o sentido, a esperança, a alegria verdadeira.

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