Como me conheces?

Vocês sabem o que fez Filipe? Após o chamado de Jesus, procurou o seu bom amigo Natanael, mais tarde, provavelmente, o apóstolo Bartolomeu, e deu-lhe imediatamente a feliz notícia que encheu seu coração de santa alegria: “Encontramos Aquele de quem escreveram os Profetas, isto é, Jesus de Nazaré, filho de José.”

Ouçam, filhas: como pelos frutos se conhece a árvore, assim julguem se são santas ou fúteis as amizades e as relações que vocês mantêm. Se delas tiram algum proveito espiritual, deduz-se que são um meio muito útil para vocês mesmas e para os outros; caso contrário, serão apenas uma perda de tempo e ocasião de arrefecimento espiritual, quando não de pecado. Natanael, mal informado pelas notícias que corriam entre os judeus que esperavam o Messias como Rei Vencedor em Jerusalém, cercado de poder, majestade e glória, não pôde esconder o espanto, quando ouviu dizer que o Messias era Jesus, filho do pobre carpinteiro de Nazaré; e disse a Filipe: “De Nazaré pode sair algo de bom?” Filipe não quis discutir e respondeu simplesmente: “Vem e vê.” Sabendo que Natanael possuía um coração íntegro e sincero, pensou justamente que, apenas se encontrasse com Jesus e falasse com Ele, dissipar-se-iam todos os preconceitos da nação judaica e o reconheceria como o verdadeiro Messias.

Pensemos, filhas, na humildade de Jesus, que não quis seguir as idéias ambiciosas do seu povo, à custa de não ser reconhecido como Messias e ser vilmente rejeitado. Escolheu um pai pobre e, como pátria, Nazaré, a mais obscura cidade da Galiléia, objeto de desprezo entre os orgulhosos judeus. Estão percebendo, filhas, como Jesus amava o desprezo? Procuremos amá-lo também nós, preferindo-o a tudo o mais.

Ao avistar Natanael, que se aproximava Dele com desejo sincero de conhecê-lo como o Salvador, Jesus o apresentou aos discípulos com estas palavras de louvor: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade.” Ah! se pudéssemos merecer tal elogio da parte de Jesus, por não encontrar em nosso coração, em nossas palavras, em nossos pensamentos e em nossas atitudes nenhum resquício de malícia, de duplicidade, mas uma habitual retidão e genuína simplicidade!

Natanael, surpreso com a acolhida e o elogio de Jesus, perguntou-lhe de onde o conhecia; e Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.” Então Natanael, convencido de que não era um simples homem Aquele que via à distância e lia no íntimo do coração, saiu-se com esta belíssima profissão de fé:

“Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!”

Filhas, unamos também nossas vozes e nossos corações, para confessar e adorar a Divindade de Jesus Cristo e o supremo poder que o Pai lhe conferiu no Céu e sobre a terra. Repitamos muitas vezes, no íntimo do coração, esses atos de fé, de adoração e de grata homenagem ao nosso divino Rei, também para reparar, de alguma forma, a incredulidade dos maus e as blasfêmias de muitos que não querem reconhecê-lo como verdadeiro Filho de Deus, não se submetem ao seu poder e lhe recusam as homenagens que, por infinitas razões, lhe são devidas. Prometamos-lhe obediência e fidelidade até a morte.

A criatura que corresponde ao primeiro raio da verdade com que o Senhor a ilumina dispõe-se a receber Dele luzes e graças cada vez maiores, até poder contemplar a beleza do céu. O conhecimento das coisas sobrenaturais será tal que lhe tornará sumamente acessível a fé nos mais profundos e insondáveis mistérios. Procuremos, pois, viver uma vida de fé, mediante o meio eficacíssimo que nos é apresentado no Santo Evangelho isto é a lembrança constante da presença de Deus. Gravemos profundamente no coração esta verdade fundamental: que Deus está presente onde quer que estejamos. Ele observa as nossas ações e intenções; nada escapa ao seu olhar perscrutador, nem mesmo um pensamento, e até os mais íntimos segredos do coração lhe são totalmente manifestos. Deus nos vê! Ousaremos pecar diante de Deus, Daquele que nos vai julgar? Deus nos vê! Que estímulo e que consolação no exercício da virtude! Ainda que fôssemos censuradas, ridicularizadas, desprezadas por todos, não nos bastaria o testemunho de nossa vida virtuosa e da retidão das nossas intenções, aquele olhar divino que julga as coisas não pelas suas vãs aparências, como fazem as criaturas, mas conforme a verdade e a justiça? Deus nos vê nas lutas, nas tentações, nas provações da vida, e está presente para animar-nos, ajudar-nos, consolar-nos, para dar-nos a recompensa, se formos fiéis e constantes na oração e na luta, até que tenhamos alcançado a vitória.

Deus nos vê a todo o momento, em todo o tempo, em todo o lugar, em cada circunstância da nossa vida, de dia e de noite, no meio das nossas atividades. Ele está sempre conosco. E nós poderemos viver alheias à sua presença, deixando passar longas horas, dias inteiros, sem nos lembrarmos Dele, sem lhe dirigir um olhar, uma prece, uma palavra de amor? Infelizmente, foi o que fizemos no passado; procuremos, porém, a partir de agora, alimentar a lembrança da presença divina, e assim viver pura e fielmente sob o olhar do nosso divino Esposo — Jesus.

             Abençoando-as maternalmente, fico em Jesus sua

                                                                          Afma. Madre