Como Fornalha de Amor

Querida Filha em Jesus Cristo,

Lembre-se de que pecar é humano, mas perseverar no mal é diabólico. Mesmo que tenha tido a infelicidade de deixar-se dominar pelo caráter, cometendo alguma falta, se estiver realmente arrependida, faça o que depender de você: peça ao bom Deus que a perdoe e lhe conceda a graça de ressurgir para uma vida nova. Também Santo Agostinho caiu de pecado em pecado; entretanto, não existiu penitente mais arrependido, mais humilde, mais grato do que esse Santo.

Mais arrependido, porque suas lágrimas começaram a correr desde o início de sua conversão. “Surgiu em mim uma tempestade, diz ele, seguida de uma abundante chuva de lágrimas,” e resolveu enterrar-se vivo em algum ermo, para chorar suas culpas até o fim da vida. Se a voz da Providência se opôs a tal plano, Agostinho soube unir aos encargos do episcopado a penitência dos mais austeros anacoretas. Toda a sua vida não foi senão uma série contínua de caminhadas, de vigílias, de jejuns; e, julgando esses atos ainda insuficientes ante a gravidade e o número de suas culpas, quando sentiu a morte próxima, pediu que afixassem nas paredes do seu quarto os salmos penitenciais, que rezou com abundantes lágrimas, até exalar o último suspiro.

Não existiu penitente mais humilde: no livro das Confissões relata seus pecados mais hediondos ao mundo inteiro, e expressa sua confusão diante de todos os homens e de todos os tempos. Para sempre o mundo saberá que Agostinho foi um impudico, um libertino, e ele fez essa confissão pública e permanente, em vida, ocupando um trono na Igreja, cercado de hereges e de invejosos, dos quais aceitava o merecido desprezo.

Não existiu penitente mais grato: seus escritos não inspiram senão o amor misericordioso do Senhor para com ele; e para narrá-lo, nem a mão, nem a língua puderam satisfazer o seu coração, pois sem conta são os arroubos de admiração, de agradecimento, de amor. “Ó beleza sempre antiga e sempre nova, exclama ele, tarde te amei. Infelizes foram para mim os dias em que não te amei; ó fogo que sempre ardes e não te consomes; ó amor sempre ardente, que não conheces nem interrupção, nem moderação. Abrasa-me, transforma-me em chamas, a interrupção, nem moderação, abrase-me, transforma-me em chamas, a fim de que eu te ame com todas as minhas forças e nada haja em mim que não seja amor. Sinto que te amo, ó meu Deus, mas quero amar-te sempre mais.”

Que fornalha de amor! Ó grande Santo que ao menos uma centelha do fogo que te consome venha abrasar meu pobre coração e o de minhas filhas!

Santo Agostinho possuía em alto grau duas características: zelo na evangelização dos povos e caridade para com os infelizes.

Animado pelo desejo de tornar Jesus Cristo não só conhecido em todo o mundo, mas no decurso de todos os séculos, dedicou-se com todas as suas forças ao estudo da Sagrada Escritura e tornou-se um dos maiores sábios nas ciências sagradas e divinas, e, derramando sobre seu povo os tesouros de sua sabedoria, ele o nutriu fartamente com o pão da palavra de Deus. Às suas eloquentes pregações acrescente-se um número incalculável de obras eruditas, as quais visam a conduzir ao caminho da verdade os pagãos, os filósofos (…), através de muitas obras imortais que ficarão para sempre como um farol para a Igreja Universal. Ao seu ardor na evangelização e na instrução, unia a caridade, procurando ajudar os infelizes. Esquece-se de si próprio, dá tudo o que tem e, ao se aproximar a morte, não pode fazer o testamento, porque nada mais tem para atestar: tudo fora distribuído aos pobres. É possível imaginar um sacrifício mais belo?

Comparemos nossa vida com a desse Santo, e tiremos nossas conclusões, mas sem desanimar. Atiremo-nos com filial confiança naquele Coração Divino que tudo pode e esperemos Dele a força necessária para santificar todas as nossas ações, para consolar o Divino Coração de Jesus, amando-o sempre e não O ofendendo jamais.

Com toda a efusão de que meu coração é capaz, eu as abençoo, enquanto fico

Sua afeiçoadíssima Madre