Os ilusórios fantasmas.

Não há pessoas mais infelizes do que aquelas que se deixam levar por uma imaginação indômita (incontrolável). Tudo as aflige: o passado, o presente, o futuro. O passado mostra-lhe as humilhações recebidas, certas injustiças sofridas, uma contradição que lhe magoou. A imaginação reaviva o sofrimento que não mais existe, exagera-o, reproduz os efeitos dolorosos e, de leve que era, torna-o opressivo; transforma o mal passageiro num sofrimento permanente. O presente lhe aborrece e desgosta; você imagina estar melhor lá onde não está; e quantas pessoas, a seu ver menos merecedoras, parecem-lhe mais felizes do que você. Assim, você não se aplica ao que faz, porque a imaginação lhe distrai e cansa com imagens extravagantes, com ilusórios fantasmas de remorsos, de vergonha pela sua leviandade. O futuro a importuna, ora com a perspectiva de uma  pretensa felicidade, ao encontro da qual você se atira, para logo depois desiludir-se; ora com a revisão de sofrimentos e cruzes imaginárias, que lhe afligem mais do que se fossem reais. Deste modo você se torna insuportável a si próprio, sempre com inquietação e preocupação, descontente e inconstante. Além disso, a imaginação faz com que você veja, nas pessoas com quem convive, suspeitas, desprezos, ódios, más intenções que não existem; com isso você sofre, causa inquietação e preocupação aos outros sem fundamento, e cai no desânimo. Para afastar a tristeza e a dor, você gostaria de dedicar-se a algum trabalho sério, a uma boa leitura, mas a imaginação torna a distraí-lo, absorve seu pensamento e, sem gosto, você abandona a atividade. Quantas vezes você sacrificou sua felicidade a ilusórios e inúteis fantasmas!

            De uma pessoa escrava da imaginação não se pode esperar nem o hábito da reflexão, que lhe mostre os seus desvios e o modo de controlá-la convenientemente; nem a fé operante, que supõe um espírito reflexivo; nem a caridade, que supõe o esquecimento dos defeitos e erros do próximo; nem a modéstia, que procede a calma e da ordem dos atos da vida interior; nem a humildade, que fecha os olhos à imagem que a pessoa cria da própria excelência, traçada pela imaginação com as mãos do orgulho; nem o espírito de oração, essencialmente oposto às divagações da imaginação.

            Examinem-se e vejam se são capazes de controlar sua imaginação, pois o auto-controle garante o sucesso em todas as atividades. Seus esforços serão abençoados por Jesus, como também lhes abençoa, de todo o coração, sua afeiçoadíssima Madre.